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Arquitetos: Marta Brandão, Mimahousing
- Área: 110 m²
- Ano: 2022
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Fotografias:José Campos
Descrição enviada pela equipe de projeto. Imagine-se a adormecer ao som de um rio correndo e acordar com o canto de pássaros e vistas para uma paisagem verde opulenta. A arquitetura poderia tornar-se por si só secundária, não tivesse sido tão meticulosamente desenhada.
Situada em Arouca, Portugal, a Casa Espigueiro (disponível para aluguer temporário em www.rustic-complex.com) foi desenhada com amor e foi fruto de uma oportunidade rara para concretizar um projeto absolutamente especial e único.
O ensejo surgiu da conjugação de dois fatores: a pré-existência de um espigueiro (um edifício tradicional da região com proporções esbeltas e elevado potencial de reinterpretação) e o contexto geográfico/natural: um terreno de sumptuosidade verdejante que remata num rio e se torna cenário perfeito para acolher e potenciar um objeto arquitetónico singular.
Inspirada nas casas excecionais desenhadas por mestres como Peter Zumthor, Studio Mumbai, Herzog&de Meuron ou Vincent van Duysen, a Casa Espigueiro almejou alcançar as características fundamentais que definem a qualidade destes projetos-referência: a poesia e a coerência do desenho em todas as frentes.
O processo iniciou com a definição de um conceito, de uma linguagem. Seguiu-se a composição da paleta de materiais e cores que viria a articular o conjunto da arquitetura, exteriores e interiores. Assim, desde o desenho da casa no seu invólucro exterior e entorno, aos interiores, aos acabamentos, à escolha do mobiliário, dos têxteis e dos mais pequenos objetos, o respeito pelo léxico visual pré-estabelecido para criação de um todo coerente tornou-se premissa fundamental.
Os pontos fortes da casa são evidentes. O telhado em ardósia, típico da região, foi feito com o reaproveitamento de ardósia envelhecida extraída de ruínas locais. Só neste lugar faria sentido construir um telhado assim. De seguida, a esbelteza do volume e do ripado de madeira - uma reinterpretação simultaneamente minimalista e rústica do espigueiro tradicional - em contraste com a fraga resultante do corte do terreno a norte. O revestimento da fachada num delicado ripado de madeira escurecida, e sobretudo a sua subdivisão em portadas de madeira deslizantes a sul, transformam a fachada num elemento vivo e cambiante. A casa ora pode ter a austeridade de um monolito, ora um rosto cambiante de natureza dinâmica, potenciadora de vivências distintas no interior. Pelo exterior, qualquer que seja o posicionamento das portadas, a composição resulta equilibrada e interessante.
No interior, a casa convida a ficar. A abundância da madeira natural e seu permanente diálogo com o bege-terra mineral do microcimento (reminiscente da cor da fraga) criam uma atmosfera de aconchego que se intensifica com a lareira. Os pormenores em metal preto adicionam um toque crocante de sofisticação. A escada em caracol, desenhada com minúcia, torna-se um elemento escultórico na sala. No piso superior, o teto inclinado do quarto principal, com estrutura de madeira e pé direito generoso, transmite grandiosidade. Ao longo do quarto corre uma estreita varanda que culmina no terraço exterior onde existem sofás integrados na estrutura e uma pequena piscina elevada sobre a fraga.
O panorama verde sumptuoso torna-se pano de fundo perfeito para contemplação, enquanto o sol espreita por entre o ripado de madeira, gerando poéticos jogos de luz por toda a casa, favorecendo o diálogo permanente entre o exterior e interior. A casa pontua a paisagem e gera nova paisagem. Desta simbiose resulta o refúgio perfeito para a agitação do quotidiano, onde se pode desfrutar da natureza em pleno conforto edificado e puro deleite visual.